domingo, 7 de outubro de 2007

Crítica:: Tropa de Elite: além das (grandes) expectativas

É fato que a pirataria gerou uma quantidade enorme de mídia espontânea para Tropa de Elite e é claro que isso também faz com que as expectativas em relação ao longa sejam muito maiores.

Pois bem. Na sexta fui conferir se o filme dirigido por José Padilha e produzido por Marcos Prado e as minhas expectativas foram superadas em todos os aspectos. Me arrisco a dizer que é um dos melhores filmes brasileiros que eu já vi.

Tecnicamente, o filme é excelente e está no nível das produções internacionais em termos de qualidade de imagem e som, sendo esse último um destaque muito positivo. Especialmente na mixagem.

O roteiro de José Padilha, Bráulio Mantovani (roteirista de Cidade de Deus) e Rodrigo Pimentel (ex-integrante do BOPE) é excelente. Mesmo recursos que normalmente são considerados prejudiciais à narrativa como o flashback e a narração em voice over são utilizados de forma adequada e contribuem positivamente na construção da história. Os personagens são interessantes, coerentes e profundos.

José Padilha optou por uma estética ultra-realista e faz um excelente trabalho na condução da narrativa e em termos estéticos. A fotografia, de Lula Carvalho contribui com o uso extensivo da câmera na mão que inclui o espectador na ação e também tem uma proposta realista que casa muito bem com a direção. As cenas de ação são muito bem coreografadas e estão em um padrão de qualidade nunca antes visto no cinema nacional. A trilha musical é excelente, assim como todo o som do filme.

O trabalho do elenco, comandado pelo diretor e preparado pela Fátima Toledo, é simplesmente fantástico. O destaque, claro, é o Wagner Moura (Capitão Nascimento), cuja atuação é irrepreensível do primeiro ao último minuto do longa.. Mas Caio Junqueira (Aspirante Neto), André Ramiro (Aspirante Matias) e o restante do elenco também têm ótimas atuações e estão de parabéns.

Mas, muito além de um filme de ação competente, Tropa de Elite é um soco no estômago e deve te fazer sair do cinema um tanto chocado. Mostra, através da ótica do policial, a proporção que a violência tomou no Rio de Janeiro e questiona o que é aceitável e até que ponto podemos chegar para manter uma ordem que é extremamente frágil e qual a nossa parcela de responsabilidade nisso tudo. Não acho que o filme vanglorie o BOPE, a tortura, a violência e muito menos que o filme seja fascista. Se visto com um mínimo de senso crítico, acredito que o filme traz todos esses assuntos para a discussão e isso é fundamental para a nossa sociedade. Considero uma pena que um dos efeitos colaterais desse sucesso de público que o filme teve antes mesmo de sua estréia, seja transformar um filme que traz questionamentos sérios e pertinentes à sociedade em um ícone pop ultraviolento.

Em suma, Tropa é um grande filme de ação. Mas, para aqueles que mantiverem a mente aberta, é muito mais do que isso: é um filme que provoca a reflexão e a discussão que precisamos para começar a mudar a situação em que vivemos. Parabéns ao diretor por conseguir construir uma obra completa que é tanto um filme de entretenimento com estética e técnica notáveis, quanto um filme engajado socialmente.

Outras opiniões +

Tropa de Elite é um tiro de calibre 12 na cara (Jorge Antônio Barros - Repórter de Crime)

Tropa de Elite (Neusa Barbosa - Cineweb)

Tropa de Elite (Erika Liporaci - No Escurinho do Cinema)

Tropa d(a) Elite (Baú de Tranqueiras)

Essa crítica e outras notícias de cinema estão no Pipoca da Boa.

Um comentário:

Fil Porto disse...

Ja falamos sobre o filme, e concordo com alguns críticos quando falam que o filme é fantástico por levar ao cinema discussões que são retratos do Brasil de hoje.A criminalidade não está somente no morro ou no asfalto, ele se encontra em diversas formas e em diversos setores do Estado.
Não é difícil associar à imagem de um político com a corrupção,negociatas escusas, trocas de favores por votos...
Se os nossos representantes políticos, escolhidos através de suas atuações anteriores e posicionamentos quanto a assuntos diversos, mostram que não há respeito por este mandato que lhes é atribuído, porque então o traficante ou o agente que pratica o roubo,furto,lesão corporal, enfim,aquele que pratica uma conduta tipificada no Código Penal, deverá respeitar o direito de outrem?
Realmente o BOPE não é um grupo de heróis, nem são santos, muitas vezes são tão criminosos quanto aquele que perseguem, mas atualmente no Rio de Janeiro, onde a violência se torna cada vez mais um ato banal, é difícil não almejar pela retirada forçada de determinadas pessoas do convívio social.
Não sou a favor da violação de direitos humanos, tortura por exemplo, como meio de obtenção de prova, acho que deva se respeitar a Constituição e as leis processuais.Entretanto, é duro dizer isto, sabendo que a polícia técnica atua em condições precárias, sem equipamentos suficientes, sabendo que os antigos inquéritos policiais de nossas delegacias estão jogados em centrais com pilhas e mais pilhas de inquéritos a serem analisados, enquanto as delegacias legais ostentam a modernidade momentânea.