quinta-feira, 7 de maio de 2009

What are you doing?

O que você está fazendo? Agora, nesse exato momento... Navegando na internet, passando o tempo sozinho em casa, enrolando no trabalho enquanto o chefe não olha, preso no trânsito?

É essa pergunta, um tanto invasiva, que norteia o serviço mais popular da internet no momento, o Twitter. O serviço de microblogging ganhou no último ano uma popularidade incrível e teve um crescimento que, dependendo da fonte consultada, passa de astronômicos 1300%. A resposta, sincera ou não, pertinente ou não, só tem uma regra estabelecida: não pode ultrapassar os 140 caracteres. É claro que já há todo um código, uma etiqueta, digamos assim, estabelecida entre os usuários, mas isso é outra história.

O meu interesse aqui não é promover o Twitter, até porque eles certamente não estão precisando, mas sim levantar um questionamento que surgiu com força quando as primeiras redes sociais (Orkut, MySpace, Facebook) ganharam força e grande número de usuários.

É evidente que abusos e exageros sempre irão ocorrer quando a ideia é criar um perfil sobre você, incluindo os seus gostos e as pessoas com quem você se relaciona, ou responder à famigerada pergunta do Twitter, mas o fato é que, independente do quão invasivas essas ferramentas possam nos parecer, somos nós mesmos os responsáveis por alimentá-las com as nossas informações e assim, disponibilizá-las para, virtualmente (e aqui essa palavra ganha mais de um sentido), o mundo inteiro.

Pra mim, a questão não é a ferramenta. A ferramenta em discussão aqui é o Twitter, mas poderia ser uma infinidade de outras mídias, serviços ou dispositivos que mediam as relações humanas na contemporaneidade, como os telefones celulares. Pouco tempo atrás, o Google lançou o Google Latitude, um serviço que se utiliza dos dispositivos de posicionamento global (GPS) incluídos em muitos aparelhos para compartilhar com seus amigos (ou contatos), a sua localização naquele momento. Pode parecer algo mórbido, pois detestamos a noção de estar sendo vigiados o tempo todo. Mas pode ser também algo interessante, dependendo apenas da maneira como se olha para a ferramenta em questão. Se poderia servir para um cônjuge ciumento rastrear a sua amada cara metade e ter certeza de que não está sendo traído, poderia também proporcionar o encontro casual para um almoço entre dois amigos que estão próximos geograficamente por obra do acaso, mas não tem a menor noção disso.

A questão da fronteira entre o privado e o público, cada vez mais tênue, também é relativa, se pensarmos que nós, humanos, seres sociais, voluntariamente tornamos pública parte de nossas vidas privadas como maneira de nos expressar, de nos relacionarmos uns com os outros e de criar e reforçar vínculos. E isso acontece desde sempre, nem estou falando dessa ou daquela mídia. Usando desde desenhos nas paredes irregulares das cavernas a smartphones de última geração, compartilhamos experiências pessoais com o coletivo. Muitos dos nossos rituais são dedicados a esse propósito. O que seria o casamento, se não uma maneira de expressar publicamente algo que provavelmente está entre o que de mais privado pode haver, que é o amor entre duas pessoas?

Acho que qualquer um que já tenha declarado seu amor por outro publicamente, falado mais do que deveria em uma reunião de trabalho ou passado um vexame diante de um grupo de conhecidos, provavelmente entenderá quando eu digo que não acho assim tão nocivo responder àquela pergunta:

Postando uma reflexão sobre o Twitter no meu blog.

Pronto. Nem doeu.