quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Crítica:: A Desbiografia de Manoel de Barros

No dia 14 de Janeiro, apenas quatro dias antes do meu aniversário, tive o privilégio de assistir o documentário Só Dez Por Cento É Mentira - A Desbiografia Oficial de Manoel de Barros numa sessão do Folha Documenta, no Cine Bombril, em São Paulo. Passei as duas últimas semanas entre a correria do dia-a-dia de quem acabou de se mudar e a sensação inquietante de não conseguir encontrar as palavras certas para escrever sobre esse filme. Foi aí que percebi que, se é que aprendi algo com esse filme de título intrigante que conta a história desse fantástico poeta sul-matogrossense, é que não existem palavras certas.

Pra começar, enquadrar o filme em uma classificação é um desafio. Diria que o filme do diretor Pedro Cezar foi classificado como documentário quase que por eliminação. Extremamente criativo, como a figura que retrata, o filme é mais do que isso. Me arrisco a dizer que o longametragem de 76 minutos de duração carrega consigo um pouco da personalidade do recluso Manoel de Barros. O filme é inventivo, lúdico e bem humorado, mas principalmente, não se restringe a nenhum dos paradigmas dos gêneros cinematográficos. Os realizadores se permitiram romper esses limites e esse talvez tenha sido o seu maior acerto.

Mas nem de longe foi o único. Muito pelo contrário. Só Dez Por Cento é Mentira é de um apuro visual fantástico. Ele flerta com a poesia visual sem se tornar hermético e apresenta a obra do poeta como ela foi concebida: pra ser lida, em inserções de texto, sem narração. A impecável direção de arte de Marcio Paes e a belíssima fotografia de Stefan Hess compõem esse ambiente onírico onde o sentido das palavras (e das imagens) é muito menos importante do que elas mesmas. A fotografia, a poesia de Manoel de Barros e as entrevistas são costuradas pela música de Marcos Kuzka, que conduz o espectador sem influenciá-lo demais.

Confesso que não conhecia a poesia de Manoel de Barros. E confesso que, apesar do prêmio de Melhor Documentário conquistado pelo longa no II Festival Paulínia de Cinema, pouco tinha lido sobre o filme. Talvez esses dois fatores tenham tornado essa experiência (por falta de uma palavra melhor) ainda mais interessante. Para um sujeito pragmático como esse que vos escreve, a proposta do poeta de transver o mundo é fascinante. Um sujeito que comparece aos próprios desencontros merece o nosso respeito e admiração. Fui assistir um documentário e acabei levando uma verdadeira lição que me mostrou o quanto enxergamos o universo que nos cerca de maneira pequena e pouco generosa. Assistir a um filme que não só registra a obra de Manoel de Barros, mas que se investe dela e que a incorpora para retratá-la só torna a experiência ainda mais interessante. Só Dez Por Cento É Mentira - A Desbiografia Oficial de Manoel de Barros deveria ser obrigatório para crianças e adultos de todas as idades.

Em tempo, a imagem que ilustra o post está disponível para download no site oficial do filme. A página do Facebook também merece uma visita.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Na metrópole

Sou um sujeito urbano. Amo a metrópole e tudo de superlativo que ela abriga entre um edifício e outro, debaixo de seus viadutos e dentro de seus túneis. A metrópole me faz sentir mais personagem de filme. Se sentir tão pequeno diante das construções, ser uma parcela tão ínfima de uma população gigantesca, traz uma insuspeita sensação de liberdade que nenhum autor daquelas ficções científicas mais tenebrosas poderia ter previsto em seus contos. Talvez por isso tenha nutrido o desejo de trocar o Rio por São Paulo. Ainda não é de maneira definitiva, mas há 15 dias, acabei fazendo essa mudança. Troquei a cidade maravilhosa e toda a sua beleza natural de cartão postal pela selva de pedra que abriga o coração financeiro do país, que é o que a maioria dos imigrantes procura quando vem pra cá.

Mas não é só no campo profissional que se pode ter um ganho em São Paulo. Ganha-se em cultura, numa cidade repleta de museus e centros culturais e cuja arquitetura prova que o formato supostamente retangular da maioria de suas construções ainda deixa espaço para engenheiros e arquitetos conceberem belas obras de arte. Ganha-se em diversidade de programas, de atividades, de gente, de hábitos e costumes nessa verdadeira babel que nunca para. Um dos 'problemas' da capital paulista é que sempre há algo pra se fazer. Ganha-se no sentimento de solidariedade e cortesia surpreendente para uma cidade desse porte. Pode ser que eu esteja enganado e que essa seja uma visão romanceada de quem acabou de chegar, mas mesmo reconhecendo os defeitos dessa cidade que é o lar de mais de 11 milhões de pessoas, ainda sou capaz de enxergar muitas coisas positivas nessa cidade que, de tão monstruosamente grande, acaba se tornando fascinante para seus novos habitantes.

A fotografia que ilustra o post foi tirada por mim do topo do Edifício Itália, o prédio mais alto de São Paulo, onde se tem uma vista magnífica da cidade.