segunda-feira, 27 de abril de 2009

Crítica:: O curioso caso do Curioso Caso de Benjamin Button

De fato esse filme é algo estranho. Após assistí-lo, me peguei ponderando como pode um filme ser bom e ao mesmo tempo não agradar. A premissa da história, alguém que nasce velho e rejuvenesce até morrer é original, traz um elemento fantástico, é intrigante. No entanto, quando você assiste a todos os longos 166 minutos do filme percebe que essa premissa não se mostra capaz de sustentar o belíssimo filme de David Fincher por todo esse tempo.

Fincher de fato realizou um filme estética e tecnicamente perfeito. Muita gente dizia que era um filme com cara de ganhador de Oscar. Certamente o filme fez por merecer os três Oscars que ganhou: Melhor Direção de Arte, Melhor Maquiagem e Melhores Efeitos Visuais. Isso sem mencionar uma outra dezena de indicações para o prêmio máximo da Academia. Destaco a fotografia do chileno Claudio Miranda, que é belíssima, um exemplo do melhor da capacidade técnica de um fotógrafo.

David Fincher faz um bom trabalho como diretor e o elenco é de primeira. Brad Pitt (indicado ao Oscar de Melhor Ator) está impecável e atua com uma naturalidade tal que você esquece que é um ator na tela. Cate Blanchett é uma grande atriz e tem uma qualidade rara no ramo: consistência. Não importa se é o drama mais profundo ou a aventura mais superficial, ela consegue sempre uma boa atuação. Taraji P. Henson, que interpreta Queenie, a mãe adotiva de Benjamin, também esteve excelente e mereceu a indicação como Atriz Coadjuvante. Se fosse um ano menos concorrido, talvez tivesse até ganho.

OK. Então o que é que falta ao filme? O que sobra em forma, falta um pouco no conteúdo. Apesar de também ter sido indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, O Curioso Caso de Benjamin Button tem um roteiro que não está a altura do restante do filme, na minha opinião. Não que o o roteiro do premiado Eric Roth (o mesmo de Forrest Gump) não seja bom. Como disse antes, a premissa, o fato que move a história, adaptada de um conto da década de 1920 de F. Scott Fitzgerald, é muito bom. Quem é que nunca se perguntou como seria ter a energia de um jovem após viver uma vida inteira, ou a sabedoria de um velho para evitar os tropeços da juventude? Mas o fato é que, ao longo de duas horas e quarenta e seis minutos de filme, são poucas as vezes em que você vê o fato de Benjamin Button estar vivendo a vida ao contrário realmente ter um impacto na trama, no desenrolar dos acontecimentos. No original, há mais conflito, mais crítica social e à natureza humana. No conto, Button nasce velho mental e fisicamente e regride em ambos os aspectos enquanto no filme há uma dicotomia entre os dois: ele é uma criança em um corpo de velho e um velho no corpo de uma criança. O filme acaba sendo então uma enorme biografia de um homem com uma peculiaridade e um grande romance entre Benjamin e Daisy, cheio de encontros e desencontros. Por último, usar a tragédia do furacão Katrina em Nova Orleans como pano de fundo para o presente da história, contada através de flashbacks, foi forçar a barra pra ganhar a simpatia do público americano (e talvez da crítica).

O Curioso Caso de Benjamin Button não deixa de ser um bom drama, mas a sensação que eu tenho é de que poderia ser muito mais.

Outras opiniões +

'O Curioso Caso': Brad Pitt em fábula para todas as idades (Tom Leão - Blog do Bonequinho)

Brad Pitt vive de trás para frente em 'O Curioso Caso de Benjamin Button' (Débora Miranda - G1)

'O Curioso Caso de Benjamin Button' vai da fantasia ao drama (Neusa Barbosa - Cineweb)

'O Curioso Caso de Benjamin Button' (Angélica Bito - Yahoo! Cinema)


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