domingo, 5 de abril de 2009

Crítica:: No lugar certo, na hora certa

O que faz um filme independente, rodado na Índia com um orçamento de US$ 15 milhões ganhar 8 Oscar, incluindo o de Melhor Filme?

A: O filme é muito bom.
B: Seus adversários eram fracos.
C: O filme é muito original.
D: Estava escrito.

O filme de Danny Bolyle conta a história de Jamal Malik, um jovem indiano que cresceu nas favelas e nas ruas e que, ao chegar à última pergunta da versão indiana de Quem quer ser um milionário? (título do filme em português), é acusado de trapacear e preso. Durante o interrogatório, ele começa a revelar a história de sua infância pobre compartilhada com seu irmão Salim e o amor de sua vida, Latika, e como essas experiências e a incessante busca dele para encontrá-la e viver o seu destino forneceram as respostas que precisava para chegar até ali.

O roteiro adaptado (ganhador do Oscar) de Simon Beaufoi, baseado no romance bastante original de Vikas Swarup é interessante e instigante. Mostra uma Índia pobre, dura, violenta e mesmo cruel sem, no entanto, endurecer e afastar o espectador como acontece com muitos filmes que trilham esse caminho. Ao contrário, nos importamos com o destino dos personagens até o final. As idas e vindas no tempo que servem pra explicar o porquê de Jamal saber as respostas despertam a nossa curiosidade e renderam ao filme um Oscar de Melhor Edição, mas começam a cansar, deixando o filme um pouco previsível depois de algum tempo.

Para compor esse quadro da periferia indiana, a fotografia (ganhadora de Oscar) é bastante crua, se utiliza da iluminação ambiente (aparente ou verdadeira) e propõe enquadramentos pouco usuais que funcionam muito bem e agradam a quem gosta de ver algo que fuja do mainstream. É inegável o paralelo entre a estética visual de Cidade de Deus e Quem quer ser um milionário?, mas não acho que isso seja um ponto importante de discussão.

A música (Oscar) e o som (outro Oscar) são excelentes, ajudam a criar o clima e envolver o espectador naquele universo tão particular, e tão distante para a maioria dos que assistiram o filme fora da Índia. A música dos créditos finais (sim, mais um Oscar) é realmente excelente e o design dos mesmos não deixa por menos. Já a dança ao melhor estilo Bollywood, eu dispenso, questão de gosto mesmo.

As atuações do elenco são ótimas e trazem consigo uma carga, imprimem um grau de realismo, que só os não-atores conseguem colocar na tela. Não porque não existam bons atores. É que as situações descritas em muitas das cenas do filme simplesmente estão além de qualquer coisa que possa ser imaginada ou incorporada por um ator.

A direção de Danny Boyle (Trainspotting, A Praia) acerta na maior parte do filme. Mas também erra. Essa seria a minha principal crítica em relação ao longa. Premiado com os Oscar de Melhor Direção e Melhor Filme, Quem quer ser um milionário? é muito bom, mas peca pela falta de constância. Há momentos maravilhosos, onde se vê um esmero do diretor e há momentos que definitivamente não pertencem a um filme que ganhou esses dois prêmios. Por vezes, há construções que alternam uma poesia visual fantástica com elementos tão ordinários que chegam a saltar aos olhos. O filme é muito bom, mas não é espetacular.

Em suma, o longa se confunde com o próprio Jamal Malik, o próprio favelado milionário (no título original, Slumdog Millionaire), que acredita no amor, no destino, supera todos os obstáculos e vence. Por quê? As três primeiras respostas à pergunta do início do post não estão incorretas. Mas, como no filme, eu vou ficar mesmo com a letra D.

And that's my final answer
.

Outras opiniões +

Quem quer ser um milionário (Ana Al Izdihar - Amálgama)

Quem quer ser um milionário (Celso Sabadin - Yahoo! Cinema)

Bonequinhos divididos para Quem quer ser um milionário? (André Miranda & Marcelo Janot - Blog do Bonequinho)


Quem quer ser um milionário (Rodrigo Carreiro - Cinereporter)


Nenhum comentário: