terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Crítica:: Falta humanidade em Inimigos Públicos

Gosto muito dos filmes de Michael Mann, seja pela estética visual, herdada dos film noir, seja por sua capacidade de dirigir cenas de ação. Mann é o melhor diretor de cenas de tiroteio que já vi e por isso, esperava bastante de um filme de gangsters dirigido por ele. A presença de Johnny Depp, Christian Bale e a ganhadora do Oscar Marion Cotillard também ajudaram a elevar as expectativas em relação ao longa que conta a história real do mais famoso assaltante de bancos da América, John Dillinger. A ação está lá, mas a trama é confusa, demora a engrenar e não conseguiu me conquistar.

A estética de Mann se faz presente no filme. A fotografia de Dante Spinotti é excelente. Visualmente, o filme é interessante pela escolha de enquadramentos menos convencionais e pelo uso da câmera na mão. Esse recurso ajuda a nos inserir na ação, mas o diretor abusa dele e acaba criando uma linguagem moderna demais, que entra em conflito com o contexto histórico do longametragem. Certamente não vai agradar a audiência mais conservadora.

As cenas de ação, entre fugas, perseguições e tiroteios, estão entre os pontos altos do filme e reafirmam essa especialidade de Mann. Não somente ele encena e coordena a ação de modo eficiente, como tem o know how, essencial, diria, de como posicionar as câmeras para tirar o melhor daquela cena. A primeira seqüência do filme e o grande tiroteio entre John Dillinger, Baby Face Nelson e seus comparsas e Melvin Purvis mais os agentes do FBI são exemplos dessa especialidade de Michael Mann enquanto diretor.

Mas, se Inimigos Públicos tem ação e estética convincentes, o que falta mesmo é um roteiro melhor. O próprio Michael Mann, Ann Biderman e Ronan Bennett adaptaram o livro de Bryan Burrough em um roteiro em que falta ritmo e personagens consistentes. Parece que estamos diante de uma seqüência de fatos históricos reconstituídos diante da câmera inquieta do diretor. Fatos esses que por vezes mal parecem estar conectados, a não ser por Dillinger. Não há uma ação dramática que norteie a trama. A grande quantidade de personagens é difícil de acompanhar e mesmo os protagonistas, jamais ganham a importância e profundidade que merecem. Tanto é que em momento algum nos identificamos com eles ou nos importamos com seu destino, já traçado, evidentemente.

Ainda assim, Johnny Depp, Christian Bale e Marion Cotillard fazem o melhor que podem, com Bale se destacando no papel de Melvin Purvis, o homem encarregado de capturar Dillinger, e Depp repetindo com propriedade a irreverência que o marcou em outros papéis de sucesso. O problema é que talvez pelo fato de seus personagens terem sido reais, o espaço para a construção deles tenha sido um tanto limitado. Não deixa de ser irônico a preocupação com a veracidade tê-los deixado falsos na tela grande.

Inimigos Públicos acerta na parte técnica, mas peca pela falta do componente humano, o que faz com que você assista a mais de duas horas de filme sem se comover ou se importar com mais nada, a não ser com aquele belo enquadramento ou a adrenalina e realidade das cenas de tiroteio, executadas com maestria por um diretor competente com 100 milhões de dólares de orçamento e uma equipe extremamente competente.

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