Outro dia estava assistindo Stock Car Brasil na televisão e curiosamente me peguei torcendo por uma batida, um acidente, uma rodada. Torcendo, enfim, pelo pior. Não que isso seja exclusividade minha. Os americanos assistem à NASCAR, a stock car americana, torcendo por um evento catastrófico e vibrando com ele, contanto que ninguém se machuque seriamente. Não é que sejamos pessoas ruins. É uma reação apenas humana.
Em "Três Usos da Faca", excelente livro do cineasta americano David Mamet sobre as estruturas dramáticas e como nós, seres humanos, nos relacionamos com elas, Mamet diz que procuramos sempre trazer o drama para nossas vidas. Quando nos relacionamos com o mundo, automaticamente procuramos enquadrá-lo em uma estrutura e nos identificamos com os protagonistas e com suas ações por intermédio de suas características humanas. E não há nada mais humano do que o erro.
Por isso o esporte é dramático por natureza, mesmo que a maioria de seus eventos se organizem em mais ou menos atos do que os três da estrutura aristotélica clássica.
Talvez esteja aí explicado o sucesso de público das categorias de stock car, onde os carros são mais equilibrados, mais numerosos, os pilotos podem se tocar e estão muito mais propensos a errar, especialmente se compararmos às corridas de monoposto, como a F-1.
Torcemos pelo acidente, pelo erro e pela batida não pelo possível efeito plástico que será capturado por inúmeras câmeras de alta definição e que veremos diversas vezes em câmera lenta. Torcemos pelo pior para nos aproximar dos protagonistas, nos identificarmos com eles num nível mais essencial, nos colocarmos em seus lugares e para, como sempre, tentar colocar um pouco mais de drama em nossas vidas.
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