O discurso de produtores, roteiristas e diretores presentes no RioMarket está afinado: precisamos de mais filmes de sucesso para fortalecer o cinema nacional. E para isso, não existe fórmula secreta. O que faz diferença é um produto de qualidade. E no caso do cinema e do audiovisual em geral, isso começa invariavelmente com uma boa história. Sem um bom roteiro, nem o mais talentoso dos diretores é capaz de fazer um bom filme.
É aí que surge parte do problema do mercado cinematográfico nacional: é difícil encontrar boas histórias. Não é que não tenhamos roteiristas competentes ou talentosos. Muito pelo contrário, temos excelentes profissionais e poucas oportunidades. Isso porque, segundo representantes das maiores produtoras do cinema nacional, eles estão estrangulados financeiramente. Por isso, sobram poucos recursos para investir no desenvolvimento dos projetos, o que faz com que roteiros crus e, em alguns casos, até mesmo roteiros ruins cheguem aos cinemas brasileiros, o que é ajudado, em parte, por conta de uma política de incentivos que, durante muito tempo, não deu nenhuma importância aos resultados nas bilheterias.
Depois que um projeto se inicia, custa muito caro abandoná-lo, mesmo que aquela história não vá render tanto quanto deveria. Do mesmo modo, custa muito caro pros produtores, na atual situação, bancar o desenvolvimento dos projetos durante um grande período de tempo. Um roteiro de cinema é como uma pedra preciosa, que tem que ser lapidado até chegar ao ponto de ser filmado. Isso demanda tempo e profissionais de qualidade. E esses dois fatores custam dinheiro.
Outra questão é que, sem a devida atenção aos roteiristas, fica mais difícil formar novas gerações de profissionais especializados nesse segmento da indústria cinematográfica. E parece estar bem claro para todos os envolvidos que precisamos cada vez mais desses profissionais.
Só pra se ter uma ideia, um dos palestrantes do RioSeminars citou o cinema americano como exemplo de desenvolvimento de projetos. Lá, para cada filme que chega aos cinemas, os grandes estúdios desenvolvem, em média, 50 projetos. É claro que essa peneira ainda deixa passar roteiros de qualidade duvidosa, mas certamente contribui para o sucesso comercial da cinematografia dos EUA no resto do mundo.
Ainda falando em números, uma rápida consulta ao site da WGAW (Writers Guild of America - West), um dos dois sindicatos que regulam a profissão de roteirista naquele país, permite verificar que no ano de 2008, 1.716 roteiristas declararam ter trabalhado nos 610 filmes lançados nos EUA naquele ano. No Brasil, em 2007, segundo dados da ANCINE (os de 2008 ainda não estão no site), 78 longametragens chegaram às salas de cinema. A ARTV (Associação Brasileira de Roteiristas Profissionais de TV, Cinema e outros Meios de Comunicação) tem cerca de 100 associados. Mesmo não sendo obrigatório ser filiado à ARTV ou ao STIC (Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Cinematográfica) para trabalhar na área, não acredito que esses 78 filmes tenham empregado mais que 150 roteiristas no ano de 2007.
Numa indústria, temos empregados especializados em funções definidas. Essa é a base dos modernos sistemas de produção e agora o audiovisual brasileiro parece estar começando a se preocupar com isso. Todos almejam fazer produtos de qualidade para obter o desejado sucesso comercial, o que é louvável. Para isso, é preciso investir na ponta da cadeia produtiva, no profissional que entrega aos seus companheiros a matéria prima com a qual bons filmes são feitos. Sem investir no desenvolvimento de roteiros, é impossível criar uma indústria audiovisual forte e saudável no Brasil. Ou, na minha opinião, em qualquer outro lugar do mundo.
PS.: O site da ARTV tem um texto de interesse sobre o assunto tratado por esse post. Clique aqui para acessar.
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