Os vampiros são figuras míticas do folclore mundial que nos fascinam há séculos, desde as primeiras lendas, transmitidas oralmente. A literatura e o cinema foram tomados, ao longo dos anos, por um sem número de histórias envolvendo estes personagens que se alimentam da força vital de outros, o que normalmente é representado pelo seu hábito de beber o sangue de suas vítimas. Mais do que isso, essas criaturas estão relacionadas no imaginário popular ao mistério, ao terror, ao sexo, à sedução e, principalmente ao desejo humano de resistir ao tempo e à morte, que são provavelmente os únicos limites que jamais conquistaremos.
No cinema, eles já foram explorados em centenas de filmes dos mais variados gêneros, que vão desde o clássico do expressionismo alemão Nosferatu (1922), de Murnau, à adaptações de obras literárias de sucesso, como Entrevista com o Vampiro (1994), do livro de Anne Rice, e Drácula (1992), adaptado a partir do romance de Bram Stoker sobre o mais famoso vampiro de todos os tempos. Se quiser, você pode conferir uma lista com os 70 melhores filmes de vampiros de todos os tempos, na opinião do autor, aqui.
Na televisão, tanto no Brasil quanto no exterior, os vampiros fizeram sucesso como protagonistas e antagonistas de novelas e seriados, com destaque para Buffy, a Caça Vampiros, que teve sete temporadas a partir de 1997 e ainda gerou spin-offs.
Mas os executivos responsáveis por produzir conteúdo para televisão e cinema operam na lógica capitalista moderna, que tem como um de seus pilares proteger seus investimentos através da busca do máximo de lucro com o mínimo de risco. Os públicos de TV e cinema diminuem. Assim, todos querem atingir os adolescentes, que são quem mais consomem produtos audiovisuais. Para Hollywood, em particular, isso significa atingir a 'mágica' classificação PG-13 no mercado norteamericano.
É evidente que histórias de vampiros vendem. O mistério, o sobrenatural vendem, são lucrativos. Mas a violência, o sexo e as questões morais complexas que acompanham estes personagens impedem os executivos de lucrar mais se arriscando menos. A solução é óbvia: adaptar obras que fizeram sucesso e que, de um jeito ou de outro, abandonaram as questões controversas que incomodam uma sociedade cada vez mais conservadora. Se deixa de lado o sangue, o terror, a sexualidade, as implicações morais do ato de se alimentar da vida de alguém até que não reste mais nada além de um romance adolescente devidamente reprimido que, com a dose certa de publicidade e o casting adequado, vai arrebatar adolescentes ao redor do mundo, garantindo os lucros exorbitantes dos investidores de filmes como esses da saga Crepúsculo. E, pela lógica do capitalismo e do consumo, quando um produto faz sucesso, o mercado é inundado por similares que geralmente conseguem ser piores do que o original, como essa série que a Warner exibe agora, Diários de Vampiro.
Como nem tudo está perdido, ainda há quem encontre espaço para produzir livros, filmes e séries com a verdadeira essência dos vampiros, ou ainda com uma visão original que consiga preservar os dilemas que permeiam o universo de homens e mulheres imortais que pagam um alto preço por esse dom. True Blood, seriado da HBO americana, encontrou nos livros de Charlaine Harris material rico e não se absteve de levar para as telas questões morais, sociais e políticas de forma tão adulta e crua, que é recomendado para maiores de 18 anos. Mesmo assim, faz enorme sucesso. Daybreakers (2010) aposta no gênero sci fi e parece propor a inversão de alguns paradigmas pra trazer algo de novo para as histórias de vampiros sem abandonar seus conceitos básicos, ainda que seja um blockbuster. Estreia ano que vem. Vamos esperar. Por fim, o aclamado sueco Deixe Ela Entrar (2008), de Tomas Alfredson, baseado no livro e com roteiro de John Ajvide Lindqvist, é um dos mais belos filmes que vi nos últimos tempos. Em cartaz nos cinemas, é simplesmente imperdível. Nem seria justo falar desse filme sem dedicar um post inteiro a ele.
Por isso, nesse final de semana, mesmo que não seja possível compará-los, se quiserem ver um filme sobre vampiros, vão conferir o sueco e, por favor, evitem os filmes de vampiros que se alimentam de água com açúcar, que me assustam muito mais do que os de verdade.