Sempre me considerei um cidadão de classe média, como muita gente. Mas, hoje de manhã, um post no Twitter me chamou a atenção para o fato de que eu talvez estivesse equivocado. Para o autor do tweet, a maioria das pessoas que reclama da vida da classe média brasileira na rede social pertence na verdade às classes A e B. A classe média, por definição, seria a classe C. Ainda segundo ele, reconhecer que não é classe média, que pertence à classe A ou B, seria admitir que faz "parte do problema". Essa afirmação me incomodou um bocado.
O primeiro passo era checar: será que sou mesmo um cidadão da classe média? Se considerarmos que a classe média é a classe C, de acordo com os parâmetros do IBGE, não sou. Se ainda somasse minha renda à das pessoas que dividem comigo o apartamento onde moro, certamente não poderia me considerar mais um cidadão da classe média. Sinceramente, se você tem filhos e mora em um grande centro urbano como o Rio de Janeiro ou São Paulo, uma renda familiar de R$ 5.100 (o teto da tal classe C) provavelmente não será suficiente para levar uma vida confortável, mas não foi isso que gerou o incômodo.
O que me incomodou mesmo é que, segundo a lógica daquele tweet (e de muita gente boa que eu conheço por aí), pertencer à classe A e B me torna "parte do problema". "Parte do problema"? Isso é absolutamente inaceitável! Em primeiro lugar, não acredito que para que eu possa ganhar um salário decente no sudeste, algumas famílias tenham que passar fome no norte do país. Creditar a responsabilidade pela desigualdade social única e exclusivamente às classes A e B é um absurdo. Rejeito esse estigma com todas as minhas forças, pois isso faz parte de uma ideologia ultrapassada que tinha na sua base a luta de classes. Uma ideologia que, assim como termos como burguesia e patronado, na minha opinião, já não faz o menor sentido no atual cenário socioeconômico global.
Rejeito a conclusão de que sou "parte do problema" porque faço a minha parte: pago meus impostos, respeito as leis, trato a todos com educação, procuro votar com consciência nas eleições e tento ensinar esses valores à minha filha. O fato de possivelmente ser parte da elite econômica desse país, o que acho lamentável dado o meu atual poder aquisitivo e patrimônio (nulo), não me torna necessariamente "parte do problema". Se tenho um papel no sistema, considerando a quantidade de impostos e tributos que pago, é o de pagar parte da conta. Então, enquanto mais de 1/5 do meu salário for direto para o governo sem que eu veja o resultado disso, enquanto eu tiver uma postura correta diante da sociedade e das pessoas que me cercam, independente da minha classe social, da minha renda mensal ou de qualquer outra coisa, não venha me dizer que eu sou "parte do problema".